A batalha que ultrapassou o mundo dos quadrinhos
Uma guerra que começou nos quadrinhos e passou para as telonas dos cinemas de todo o mundo. Confira a critica de Ronaldo Gomes sobre a batalha de Marvel e DC.
O combate de Capitão América e os Vingadores
contra Batman e o Superman.
Nossa época está imersa numa batalha que ultrapassa nosso tempo, nosso planeta e, mesmo, nosso universo. E não é a eterna luta do bem contra o mal, que já aparece no Gênesis e aponta para o Armagedom, mas a guerra entre DC e Marvel que atravessa tempo e espaço, transcendendo o mundo das histórias em quadrinhos.
Se você já assistiu, sabe de tudo. Se não, não quer spoiler que diminua o prazer de ver “Capitão América: Guerra Civil”. Mas, certamente, todo mundo já viu “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”. Assim, o melhor a fazer não é comparar dois filmes tão diferentes, mas traçar um paralelo entre eles para não estragar as expectativas de ninguém. Vamos nos ater só ao que funciona em um e não dá certo no outro.

Gênesis
A atual batalha começou em 2003, quando David Maisel assumiu a direção da Marvel Studios, passou a organizar os complicados acordos com Warner e Sony, que emaranhavam personagens em questões de direito de uso e exibição e os impediam de aparecer em filmes de uma ou outra empresa. Resolvido isso, começou o plano de longo prazo para apresentar cada um dos super-heróis e prepara-los para se juntarem em “Vingadores”. “Homem de Ferro” foi o primeiro grande passo da atual fase dessa estratégia da Marvel. Depois vieram “Thor” e “Capitão América”. Todos com cenas para espicaçar a curiosidade do público após ou entre os créditos finais de cada um. Enquanto isso, a DC continuava em produções individuais sem criar nenhuma ligação entre seus personagens.
Foi assim que os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely precisaram mudar, a pedido da direção do estúdio, tudo que tinham feito durante meses para o novo filme do Capitão América, porque havia sido anunciado o projeto de “Batman vs Superman”. A Marvel queria, então, um confronto entre dois grandes de seu próprio universo para superar o combate entre os maiores heróis da DC Comics.
Duelo de Gigantes
E a DC veio, realmente, com tudo. Numa produção de 250 milhões de dólares, delegou a Zack Snyder o trabalho de apresentar a luta entre Batman e Superman, filmada na escura e ruinosa Detroit pós-crise de 2008 (que quase destruiu a indústria automobilística de que sempre foi o maior símbolo). E mais uma vez o diretor mostrou que tem tanto molejo quanto o Robocop (só para ficar na mesma cidade que há tanto tempo é retratada como símbolo da decadência dos EUA e da sociedade moderna em geral).
Seu homem-morcego tem o uniforme transformado numa armadura pesada que, como já foi dito mais de uma vez, o torna uma espécie de Homem de Ferro sem o charme ou o humor do original interpretado por Robert Downey Jr. E a briga dele com o Superman é totalmente armada por Lex Luthor (Jesse Eisenberg, brilhante como sempre, no papel mais convincente da história), que parece ser o único ser pensante do enredo – mas ele está muito mais próximo, como construção psicológica, do Coringa da saga “O Cavaleiro das Trevas” . Já os dois heróis se deixam levar pelos desígnios do vilão como dois cegos sem experiência urbana na cidade grande.
Onde estão os personagens que conhecemos e amamos há tantas décadas? O desengonçado Clark Kent das primeiras versões do gibi teria muito mais tino, sem contar a capacidade investigativa de Bruce Wayne.
O desentendimento só acaba quando eles se identificam, graças às respectivas progenitoras. Os roteiristas tiveram que por a mãe no meio para resolver a situação, o que só reforça a ideia de que são heróis agindo de maneira absolutamente instintiva, sem nenhum raciocínio.
Resta a Mulher Maravilha, que aparece tarde. O personagem não tem nenhuma explicação, mas funciona, em grande parte pela força e beleza da figura.
O que sobra são lutas longas e cansativas, lembrando os filmes japoneses de monstros – como Godzilla – que tanto sucesso fizeram em meados do século passado, sem nada além da exibição da força física e habilidades marciais dos contendores. Quando Batman faz uma malhação extra, com pesos enormes, se preparando para enfrentar o Superman, temos o único momento próximo do cômico, mas, infelizmente, não é intencional.
Um Passo para a Eternidade
Em “Capitão América: Guerra Civil”, o que se vê é muito diferente. O esmero dos roteiristas e a agilidade e leveza dos diretores Anthony e Joe Russo fazem tudo fluir. E não é trabalho simples coordenar um elenco de estrelas e quase um exército de super-heróis e vilões sem que o público saiba, muitas vezes, quem é herói ou bandido. Personagens novos que ainda estão descobrindo suas habilidades e poderes, como a Feiticeira Escarlate, absolutamente desconhecidos (pelo menos no cinema) como o Pantera Negra, e absolutamente inesperados, como o Homem Aranha, se misturam e confrontam com velhos conhecidos. Tudo num balé perfeitamente coreografado e harmonizado com diálogos inteligentes e engraçados. No quesito humor, medalha de honra ao mérito fica com o Homem Formiga, mas a taça vai para um Peter Parker absolutamente adolescente e hilário.
Mas não é o humor que sustenta o filme. A discussão levantada no enredo é muito séria e atual. Que direito tem quem possui o poder de intervir a seu bel-prazer nas vidas e destinos dos outros? Ter as armas certas é justificativa suficiente para submeter outros ao que achamos certo? Quem deve dizer o que é certo ou errado para o mundo e a quem devem ser submetidos os que têm a força para agir? Essas são as perguntas que regem a história.
Outra vertente importante do roteiro é a confrontação entre a razão, o instinto e a emoção, que em diferentes dosagens nos tornam humanos ou nos tiram a sanidade. Isso tudo é colocado em acordo com a complexidade de cada personagem, numa discussão consistente entre eles, levando o público a mudar de lado várias vezes no decorrer da trama.
No final, quem vence é o projeto de longo prazo da Marvel, mostrando que o minucioso trabalho de montar quebra-cabeças desenvolvido pelos roteiristas fez personagens e história avançarem em conjunto, na mesma direção, deixando o mundo com a respiração presa, aguardando “Vingadores: Guerra Infinita – Parte I, que só veremos em 2018.
Parabéns pela crítica comparativa dos filmes em questão, gostei!
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Obrigado, Ângelo, pelo comentário. Você é o primeiro a comentar um texto do nosso jovem blog.
Ficamos muito felizes com a sua iniciativa e satisfeitos porque você gostou.
Grato pelo apoio.
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Nossa muito boa a crítica comparativa,porque gostei muito de ambos os filmes … Adorei,parabéns.
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Muito obrigado, luiizfernando.
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Excelente comparação!
De fato, concordo com a crítica. Muito rica em informações que nos deixam por dentro do que não procuramos saber. Demais!
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Excelente crítica!
Concordo com o tudo. Crítica muito rica em informações que nos deixam por dentro do que, muitas vezes, não atentamos ou procuramos saber. Demais!
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